segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Morte-vida



Pela vida andamos mortos             
Do céu nos observam absortos
Os anjos que outrora fomos.

Ao trilhar essa morte-vida
Caminhando por entre fendas, sem destino
Num suspiro profundo, quase que ferino
Adentramos nossa própria ferida.

Na apatia de quem se apóia na espera,
Ao ver que não é sangue o que lhe derrama
 Não tendo quem lhe acorde, nem quem o ama
O já defunto assume a cova que carrega.

E nesse idílio absurdo e ausente
Os demônios que nunca nos tornamos,
Nos espreita com olhares sobre-humanos
Sussurrando a nossa morte eminente.

Lwdmila

terça-feira, 5 de junho de 2012

Indiferença devia ser crime!

Descobri que a indiferença é uma armadura muito boa, porque é muito doloroso receber gratuitamente a indiferença, é doloroso saber que as pessoas usam de indiferença com você somente pela necessidade doentia e cruel de te ver sofrer, e que do nada você foi o escolhido da vez para a cruz. O que fazer para escapar? Ignorar, essas pessoas se desestabilizam, quando descobrem que você também não se importa com elas, simplesmente pelo fato de que todos querem ser importante para pelo menos alguém nesse mundo, e estão sempre em busca de mais um para o seu exército de admiradores.
Não me lembro quando comecei a ser indiferente, porque às vezes somos indiferentes, mas não nos damos conta disso. Faz um tempo que eu comecei a tomar consciência da minha indiferença. Foi aos poucos, eu me perguntava: por que eu sou assim? Essa pergunta permeou toda a minha adolescência e ainda é uma constante em minha vida. Me  perguntava o que eu tinha de diferente das outras pessoas. O que sou eu se não uma vítima da indiferença e do vazio que eu mesma busquei?
O problema é que a indiferença protege, mas anula. Anula porque chega um ponto que você em não sabe mais onde se perdeu, não sabe mais onde está a sua identidade.
Existem coisas que vencem meu escudo: Sofrimento e Fé. 
Tenho vontade de rir, quando dizem que sou calma. Afirmam isso. Eu sou uma vontade enfraquecida pela indiferença e que caiu no vazio, eu não sei fazer o caminho de volta.  Nada dura o tempo necessário para que eu me apaixone.
O medo de falar é uma consequência. Falar é se expor.
Talvez você fique com uma ideia negativa de mim, ou então com pena. Não fique! Eu sou apenas mais um medíocre na grande lama que é o mundo.

Cássia

terça-feira, 15 de maio de 2012

Falando em Palavras.

Sinto que a palavra me devora, toda vez que olho essa mesma folha estranha, tão velha conhecida, nem me pertence e nem a ninguém. Letra a letra cada uma em seu lugar, desencaixadas, reorganizadas.
Qual o peso de cada uma delas, o som leve, o som grave... De onde nascem as palavras? Todas elas. A palavra escolhe ser dita, resisto, é preciso ter cuidado para não espalhá-las demais ao vento, cuidado, elas são camaleões e nem sempre fazem sentido.
É nos descuidos que elas me tomam de um gole só ou em pequenas doses, mas não sem o devido zelo, elas cortam, rasgam com suas cores desconcertantes. Sinta cada uma na carne, imagine o trabalho árduo de um músico na composição de uma melodia, na violência dos sons que quebram os silêncios, na harmonia, pense também no processo consciente da escrita, da fala. Por mais consciência que se tenha, ainda assim, haverá uma força intuitiva em cada ato de fala, um ânimo passional. As palavras estão em nosso corpo, fluindo a todo tempo, e antes de nós esteve em outros e outros. Me sinto fragmentada e reconheço em cada palavra as marcas de uma continuidade que me constrói, feitos de carne, de sangue de pele e palavras, de outros, de muitos, de mim.

Luana

domingo, 13 de maio de 2012

Inaugurando

Resolvemos criar um blog com a proposta de... escrever.

Fazem 8 dias da fundação e nada ainda. E chegamos a conclusão, ou, eu cheguei a conclusão (que difícil assumir a primeira pessoa, depois que a academia me destituiu dela), que se não inaugurarmos logo isso, me sentirei tentada a excluí-lo pelo bem de minha consciência.

Não, isso não é drama. Há um interesse que me faz cautelosa com as palavras. Que parcela do que falo se materializa, que parcela do que falo se desfaz no ar? Escrever, falar requer consciência da responsabilidade da reverberação sem controle, das interpretações descontextualizadas, dos julgamentos pessoais, das formas de uso indiscriminado. Requer humildade pelo desprendimento de autoria, e requer menos paranóias da responsabilidade para que o discurso possa nascer espontâneo, livre, fluido...

Por isso, por tanta contradição detectada no discurso, que às vezes, parece que o silêncio ainda é o lugar mais confortável para se estar (e quantas vezes me refugio nele).
E antes que o silêncio se torne hegemônico e a opção mais sensata para se expressar virtualmente, vamos a nossa primeira publicação.

Lwdmila