segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sonhos e Rimas

Se deu em duas noites seguidas,
uma guerra noturna em meu mundo.
Fugindo, no sono profundo,
busquei evadir-me do que me seguia.

Num encontro, consolo, sofria
a minha cúmplice amiga acuada,
desistindo da vida, desarmada,
temia apenas as consequências frias,
de sua morte eminente e tardia
e do destino de sua alma amuada.

Por medo de viver vagando na morte,
nos mantemos entregues a própria sorte.
E pela certeza de que a garrafa que víamos,
ampliada em toda a sua bizarria,
a medida que sua visão nos despertava,
me dava indícios de que sonhava.

(Rimas em homenagem ao relato de um dos sonhos de Rosy Bernardo)

Lwdmila 

domingo, 6 de outubro de 2013

De Palmares em Palmares: quilombagem interestadual

“Somos malungus papa méis: o quilombos dos Palmares em Alagoas e Pernambuco”.
Esse foi o título da palestra realizada pelo grupo Subverso no dia 02 de outubro na Semana Universitária do campus Mata Sul/Palmares (PE).

O grupo Subverso, formado na cidade de União dos Palmares, tem o intuito de, através da história antiga e contemporânea, fomentar elementos de valorização da cultura negra, palmarina e alagoana que sirvam como base para a afirmação identitária. Identidade enquanto constituidora de subjetividade valorizada, se forja a partir da consciência de valores que contribuem para a apropriação do que somos e onde estamos. Nessa apresentação do Subverso, foram somados os estudos sobre cultura e história Palmarina e Palmarense, no recontar sobre o quilombo, sobre formação de identidade, sobre literatura.



sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Subversivas

(Reunião do grupo Subverso, 12 de setembro de 2013, União dos Palmares/AL)

Subversão é a contradição e construção do novo. 
A pessoa (indivíduo ou sujeito?) que se presta a essa construção é um rebelde, que caminha por novos caminhos, duvida, pensa. 
A subversão é, pois, uma necessidade de mudança coletiva que parte de uma inquietude e o subversor se transforma em tal quando sua rebeldia nasce do espetáculo de uma condição própria, injusta e incompreensível, ou quando observa nos outros os efeitos degradantes da opressão, ou quando através da rebelião procura-se a solidariedade humana como defesa de uma dignidade comum a todos*.

Meninas, para sempre e sempre, a despeito de barreiras estaduais, institucionais, no campo do afeto e do inconformismo.



*BORDA, Fals. As Revoluções Inacabadas na América Latina (1809-1968).  São Paulo: Global Editora, 1979.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Semana de Museus - Museu Jorge de Lima e Museu Maria Mariá

Na semana de Museus, nós do Subverso e as crianças e seus professores da Escola Estadual Rocha Cavalcanti (5º ano matutino) e a Escola Municipal Jairo Correia Viana (6º ano vespertino) disponibilizamos nossa manhã e tarde do dia 17 de maio para dialogarmos de forma lúdica sobre a história do Quilombo dos Palmares.


Foram momentos em que nosso planejamento, nossa vontade de práxis (prática reflexiva) e nossas estratégias de acesso foram reinventadas e, graças a possibilidade de estarmos juntos nesse processo, podemos vivenciar a educação.





terça-feira, 7 de maio de 2013

Identidade, Território e Desterritorialização.


      Ter identidade é fazer parte de um povo, de uma cultura, de uma história, se identificar, defender uma causa, levantar uma bandeira, organizar-se como classe trabalhadora. É fazer parte de um grupo, e se assumir como parte dele. 
       É o caso das comunidades Quilombolas. Para que haja uma comunidade tem que haver uma relação de pertencimento entre as pessoas, o lugar e a história, se reconhecer no outro, gerando assim uma consciência de grupo. Toda identidade é formada em determinado espaço, o que podemos classificar de território. 
     É no território onde se estabelecem as relações culturais e sociais e a disputa de poder de uma determinada sociedade. São essas relações geográficas e simbólicas que criam o território e a identidade de um povo. O território passa a ser o mediador entres os indivíduos, tendo não só uma dimensão cultural, como também política, sinônimo de disputa pelo poder, de dominação de exploração. 
     A desterritorialização se dá quando um determinado grupo é obrigado a deixar seu território por pressões externas e/ou sistêmicas (guerras, cerca, etc), ou por questões naturais, como enchente terremotos, etc. 
       Mas, o que é preocupante é quando o motivo é político, guiado por interesses mesquinhos, baseado nas relações de dominação. É o caso das tribos indígenas, que em todo processo histórico brasileiro foi e é desterritorializada, sendo engolidas pelos os canaviais e fazendas de grandes latifundiários, o caso das comunidades quilombolas, que têm suas terras invadidas, dentre outros exemplos. 
     Em Alagoas, tribos indígenas foram massacradas ou destituídas de seus territórios, o Quilombo dos Palmares, que foi derrubado, destruído, e suas terras apossados por outros grupos, a religião de matriz africana em Maceió que, no ano de 1912 com o quebra de xangô, teve várias Casas perseguidas e botadas abaixo pelo o poder ditador da polícia-política da época, forçando o exílio de yalorixás e babalorixás em estados vizinhos. Sem esquecer de mencionar os moradores que viviam da pesca no bairro do Jaraguá e foram expulsos para outro local e por motivo ampliar o potencial turístico da região. 
     Todo esse processo de desterritorialização faz com que os indivíduos sejam obrigados a reconstruir uma nova história em um novo espaço, o que é difícil para muitas comunidades, pois seus moradores têm uma relação muito forte com o seu território, material e sentimentalmente, além desse ser a fonte de onde se resgata a história da comunidade e, consequentemente, do indivíduo. 
     Abandonar um território onde se funda uma comunidade fragiliza a sua identidade que perde parte de sua referência. É o caso dos Judeus que sempre sofreram com expulsão e reconstrução da sua identidade em outro lugar. Contudo, se toda identidade é formada em um território que é palco das relações culturais, sociais e políticas, esse está sujeito a sofrer modificação em seu processo por causa da forma como é usado. 
    Todo povo constrói uma historia e está sujeito ou obrigado a reconstruir outra história, dentro de um espaço que é a morada do homem e ao mesmo tempo sua prisão.

Thaís Paulino - Estudante de geografia Uneal, subversiva.

domingo, 28 de abril de 2013

Inquietações no Espelho


Queria uma música
Para embalar a minha vida...
Não gosto do silêncio!
O silêncio é um companheiro cruel!
Me permite ficar cara-a-cara comigo mesma!
E a triste ideia desse encontro me amedronta!
E, por vezes, muitas vezes
Me silencia...

Meu refúgio é a arte que me alimenta de forma estranha.
Como um remédio que alivia quem o toma
Mas nada pode fazer pelos que o formulam
Independente de sua grandiosidade, independente de sua Forma.
E hoje, eu apenas a absorvo...
Me envolvo, me entrego e espero
Que em meio à Alucinação, haja a super Alienação e que, por fim (ou começo talvez)
Dela Brote a tão sonhada Revolução
Que ela me consuma
Me hidrate, me resgate e me condene.
Que me entenda, que faça entender.
Surpreenda, me faça surpreender
Que sensibilize, que enfureça e compadeça
Que me penetre assim como meu olhar no reflexo do espelho
Quero encará-la como a mim mesma
Para que eu não banalize nem a mim nem ao outro
Que seja meu alívio, meu engasgo.
Meu conforto-confronto, meu esforço, meu escárnio.
Que seja um pulsar quente e acelerado
Numa noite tranquila de inverno.
Para que, por fim, a imagem no espelho
Não me amedronte mais.
Que apenas GRITE!
E se converta em Música...

sábado, 23 de março de 2013

Fanzine - Abrapso 2012

O fanzine abaixo foi produzido em situação de oficina em novembro de 2012 no III encontro norte-nordeste da ABRAPSO.  Com o tema: vozes guerreiras bonitas que agregam: políticas de resistência e criações. Na ocasião apresentamos duas de nossas produções sobre violência, no eixo temático - Mídia, Comunicação e Linguagem. Para acessar os resumos basta acessar os links.
....
Meu nome agora não importa
Meu corpo agora indigente
Desfaz-se num soluço distante, quase ausente,
Estendido no chão, ao redor pessoas mortas.

Espalham-se rostos vazios, indiferentes
Se estendendo num círculo moribundo
Não sei se o morto sou eu, o vagabundo
Ou a multidão que se faz presente

O sangue estancado no chão
Não tiram o apetite
Do morto com a câmera na mão.

Minhas fotos estampadas, sem pudor
Reduzido, sou um número, estatística.
Do espetáculo o melhor artista.
Meu funeral desfeito em dor.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Eu mulher



E quando nasci uma voz me disse: inquieta-te e prepara pra ousar na vida, não acredite no que te dirão sobre como é ser mulher. Não, não é a fragilidade que norteia o teu caminho, sois forte, mas teu corpo não é uma rocha, és sensível. Quando comecei a compreender as palavras descobri que viver dói.
E novamente vozes ecoaram: teu corpo é somente teu! Senti as palavras vibrarem uma a uma em cada órgão. Sou agora a voz de muitas outras e também a minha, meu dia são todos os dias em que preciso lembrar um 8 de março, de lutas, de resistências. Todas as flores são bem-vindas, desde que venha acompanhada do respeito cotidiano.
Eu mulher, ainda sou vítima ao ser acusada a cada amanhecer, por quererem uma submissão que não cabe em mim, por ser exigida a estar dentro de um padrão como se todas fossemos iguais...  Fabricadas, produto de uso essencial ao prazer do outro. Somos todas mulheres e não precisamos de definições que venham em rótulos.
Agora cabe a mim rebelião, de mãos dadas com tantas outras mulheres sem nomes. Agarro-me a rostos, sorrisos, escritos e as tantas vidas revolucionárias na luta por igualdade de oportunidades, por respeito e visibilidade e acima de tudo pelo direito de ser minha, livre e sem invasões. 
Eu-mulher, Subversiva inverto a ordem ao reinventar caminhos, não caibo na sua vitrine, não sou essa dos programas de TV e se você olhar pra mim, se olhar nos meus olhos e não os meus seios, verás uma aresta do que sou e do que tantas outras também são. Concedo-me o direito de ter voz, de livremente ser uma e ser tantas, de ir à luta e não me calar.
Eu-Mulher, todos os dias, saúdo todas as companheiras que fizeram e fazem valer o dia 8 de março! 

Luana

domingo, 3 de março de 2013

QUERO SER LIVRE HOJE!


Do meu inconsciente
Vejo a Serra da Barriga.
Serra negra, terra sagrada
Serra de todos, serra pelada.
Desprendo de mim e ouço
As fortes pisadas nas folhas secas.
Será um negro cansado fugindo do branco?
Ou serei eu, fugindo do descuido humano?
Mundaú quase não te lambe, Serra!
Mundaú está morrendo.
Daqui de cima o vejo estreito,
Correndo devagar, sem forças
Com os ossos que se mostram
Sem nenhum pudor.
Cuidado Serra!
Os animais que pensam
Podem te desmatar.
Negro que lutou
para viver em liberdade.
Teus descendentes lutam para se libertar
da ganancia dos novos Senhores de Engenho.
Ô liberdade quase conquistada
Não se afasta!
Não quero a liberdade amanhã
QUERO SER LIVRE HOJE! 

Rosy Bernardo

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Fragmentos de discussão sobre Raça e Racismo.


O Brasil é o segundo país onde a maioria da população é negra, mas nem por isso deixa de ser um país racista. Já afirmava o Professor Munanga que dizia “o problema não está na raça, mas no racismo que hierarquiza, desumaniza e justifica a discriminação.” Esse racismo é difícil de ser arrancado, ele já vem enraizado desde o tempo dos nossos avós, onde dizia que lugar de negro é na senzala, ou então, quando o negro não “caga” na entrada “caga” na saída. Esses ditados populares podem ser muito engraçados, porém no fundo tem seu teor de racismo.
O negro foi explorado, descriminado, maltratado, despersonificado, tratado como objeto, e mesmo assim resistiu. Viu seu continente ser invadido, dividido, comercializado e ainda sim, resistiu. Foi massacrado, chamado de pagão, viu sua crença ser desrespeitada, proibida, caluniada, ouviu que sua cor era símbolo de inferioridade e um castigo divino e mesmo assim persistiu. Trabalhou duro, horas a fio, num sol escaldante, caldeiras ferventes, mineração, moinhos de cana e mesmo assim, continuou de pé. Cultivou sua cultura, suportou preconceitos raciais, dor, pobreza, fome. E, sem perder a esperança, sem deixar de lutar pela igualdade merecida, continua resistindo. Isso é de orgulhar!
O negro sempre sofreu preconceito, mas esse não conseguiu derrubar a força que cada homem negro e mulher negra têm. No fundo, toda pessoa, mesmo aquela que traz traços europeus, tem sangue de negro correndo em suas veias.
O que seria do Brasil sem o negro? Nada! Devemos sempre lembrar do que hoje chamamos de cultura brasileira, como o samba, o carnaval, a capoeira, são de origem negra. E o batuque, o coco de roda, tantos e tantos outros ritmos que temos no nosso país e que existem hoje devido a alegria, o molejo do negro.
Diversas coisas se originaram a partir da cultura negra e ainda hoje o negro sofre racismo?! Mas, enfim, o que seria do Brasil, do mundo, sem a cultura negra?
E você branco, do que se orgulha?
De invadir terras alheias, de escravizar e comercializar seus semelhantes, de coisificar o ser humano? De sugar todas as riquezas das suas colônias e deixar seus moradores na miséria? De colocar tua religião acima de tudo e todos, queimar, matar, torturar e censurar qualquer manifestação ou pensamento diferente? De sempre se colocar como superior em função de suas posses? Onde estão tuas conquistas? Onde derramastes teu suor? É muito fácil crescer com o trabalho alheio!
É triste ver uma sociedade que se espelha em países que historicamente e descaradamente foram (e são) o motivo do choro e do infortúnio de milhares de almas, países que exploraram continentes e hoje, ainda explora e aliena os seus. Triste ver a violência, o sangue derramado por séculos de barbárie. Pior, ver se propagar esse padrão que nos serve de modelo e as mudanças mínimas, a nível de humanidade, que foram alcançadas.
Os brancos nos ensinaram uma cultura de acumulo, exploração, violência, preconceito e desamor, enquanto isso os negros, nos agraciaram com os ritmos, a força, coragem e resistência, além de nos deixarem uma lição: na África, enquanto os negros capturados pelos brancos eram mortos, torturados e estuprados, os brancos capturados pelos negros só tinham que confessar seus crimes detalhadamente para então receber o perdão! Esse sim é um exemplo de humanidade!
O negro provou ao longo da historia ser forte, capaz, revolucionário e acima de tudo humano. Agora, repense, onde está a inferioridade da raça humana? Nos atos ou nas raças? (se é que existe raça além da humana).


Thaís Paulino & Thamires Marques

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Desabafo


De tanto sufocar minha vontade de escrever
O verbo
Perdeu o som, o tom,
A forma.
Sinto um marasmo de ondas violentas
Passando pelas veias da alma.
Espero um dia recuperar o
Verbo,
O verso
O inverso, e Ser
Encontrar
Nas curvas da vida
Meu Reflexo
Mais uma vez.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Do amor e do amar.


Em meio a tantos usos e desusos da palavra amor e do verbo amar, das suas utilizações em músicas comerciais e nas formas mais banais de declarações passageiras ou de intensidades puramente afirmativas, sempre é possível reconhecer a sua genuinidade.

Isso porque, aprendi a reconhecer o amor quando ele não cabe em definições ou em adjetivações do objeto amado – o amor precisa apenas do seu verbo correlato, amar.

O amor, esta instância abstrata-objetiva de dedicação e afeto, sem definição verbalizável, mas de indiscutível constatação empírica, é um sentimento simples, que requer espaços, momentos e contingências banais para se manifestar. Por isso, ao amor não cabe a busca, a ânsia, porque essas características já vêm atreladas a instalação do amor, e não antes dele.

O amor com suas várias nuances de hoje, também é uma construção histórica, amamos desprovidos de pudores, com declarações públicas ou algo que o valha graças a valorização desse comportamento, e até a exigência do mesmo já que precisamos atestar aos outros que somos amados e amamos.

Mas, na minha forma infinitamente romântica e otimista frente ao amor, penso que toda forma de amor, mesmo àquela comercial, instantânea e rasa, é valida. E sabe lá se há quem pense que amar pouco seja o suficiente, e até o ideal a alcançar, já que quanto mais amamos, quanto mais intenso é o amor, mais frágil ele se torna pelas expectativas criadas, pelas excessivas exigências a ele feitas.

Com todos os riscos, toda a dor pós-amor, do amor não correspondido, ou do amor ainda irrealizável, o amor precisa ser vivido para existir, e que possamos vivenciá-lo na sua forma mais intensa e desnorteadora, nem que seja poucas vezes nessa vida.

Só ele que nos traz experiência de exceção, o reconhecimento mútuo, o abandonar-se e encontrar-se em outro. É o que Bourdieu* denomina sabiamente de uma livre alienação, em que entregamos nossa liberdade ao outro, e recebemos a liberdade do outro em troca.

Amar como signo da vida, da reciprocidade. É a forma mais sacra e talvez uma das únicas possíveis de, finalmente acessar-nos-nós.

O amor é a forma mundana de vivenciar deus.

Amém!
Amem!

·         BOURDIEU, P. A dominação masculina. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.