sábado, 19 de janeiro de 2013

Do amor e do amar.


Em meio a tantos usos e desusos da palavra amor e do verbo amar, das suas utilizações em músicas comerciais e nas formas mais banais de declarações passageiras ou de intensidades puramente afirmativas, sempre é possível reconhecer a sua genuinidade.

Isso porque, aprendi a reconhecer o amor quando ele não cabe em definições ou em adjetivações do objeto amado – o amor precisa apenas do seu verbo correlato, amar.

O amor, esta instância abstrata-objetiva de dedicação e afeto, sem definição verbalizável, mas de indiscutível constatação empírica, é um sentimento simples, que requer espaços, momentos e contingências banais para se manifestar. Por isso, ao amor não cabe a busca, a ânsia, porque essas características já vêm atreladas a instalação do amor, e não antes dele.

O amor com suas várias nuances de hoje, também é uma construção histórica, amamos desprovidos de pudores, com declarações públicas ou algo que o valha graças a valorização desse comportamento, e até a exigência do mesmo já que precisamos atestar aos outros que somos amados e amamos.

Mas, na minha forma infinitamente romântica e otimista frente ao amor, penso que toda forma de amor, mesmo àquela comercial, instantânea e rasa, é valida. E sabe lá se há quem pense que amar pouco seja o suficiente, e até o ideal a alcançar, já que quanto mais amamos, quanto mais intenso é o amor, mais frágil ele se torna pelas expectativas criadas, pelas excessivas exigências a ele feitas.

Com todos os riscos, toda a dor pós-amor, do amor não correspondido, ou do amor ainda irrealizável, o amor precisa ser vivido para existir, e que possamos vivenciá-lo na sua forma mais intensa e desnorteadora, nem que seja poucas vezes nessa vida.

Só ele que nos traz experiência de exceção, o reconhecimento mútuo, o abandonar-se e encontrar-se em outro. É o que Bourdieu* denomina sabiamente de uma livre alienação, em que entregamos nossa liberdade ao outro, e recebemos a liberdade do outro em troca.

Amar como signo da vida, da reciprocidade. É a forma mais sacra e talvez uma das únicas possíveis de, finalmente acessar-nos-nós.

O amor é a forma mundana de vivenciar deus.

Amém!
Amem!

·         BOURDIEU, P. A dominação masculina. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.