Em meio a tantos usos e desusos
da palavra amor e do verbo amar, das suas utilizações em músicas comerciais e
nas formas mais banais de declarações passageiras ou de intensidades puramente
afirmativas, sempre é possível reconhecer a sua genuinidade.
Isso porque, aprendi a reconhecer
o amor quando ele não cabe em definições ou em adjetivações do objeto amado – o
amor precisa apenas do seu verbo correlato, amar.
O amor, esta instância
abstrata-objetiva de dedicação e afeto, sem definição verbalizável, mas de
indiscutível constatação empírica, é um sentimento simples, que requer espaços,
momentos e contingências banais para se manifestar. Por isso, ao amor não cabe
a busca, a ânsia, porque essas características já vêm atreladas a instalação do
amor, e não antes dele.
O amor com suas várias nuances de
hoje, também é uma construção histórica, amamos desprovidos de pudores, com
declarações públicas ou algo que o valha graças a valorização desse
comportamento, e até a exigência do mesmo já que precisamos atestar aos outros
que somos amados e amamos.
Mas, na minha forma infinitamente
romântica e otimista frente ao amor, penso que toda forma de amor, mesmo àquela
comercial, instantânea e rasa, é valida. E sabe lá se há quem pense que amar
pouco seja o suficiente, e até o ideal a alcançar, já que quanto mais
amamos, quanto mais intenso é o amor, mais frágil ele se torna pelas
expectativas criadas, pelas excessivas exigências a ele feitas.
Com todos os riscos, toda a dor
pós-amor, do amor não correspondido, ou do amor ainda irrealizável, o amor
precisa ser vivido para existir, e que possamos vivenciá-lo na sua forma mais
intensa e desnorteadora, nem que seja poucas vezes nessa vida.
Só ele que nos traz experiência
de exceção, o reconhecimento mútuo, o abandonar-se e encontrar-se em outro. É o
que Bourdieu* denomina sabiamente de uma livre alienação, em que entregamos
nossa liberdade ao outro, e recebemos a liberdade do outro em troca.
Amar como signo da vida, da
reciprocidade. É a forma mais sacra e talvez uma das únicas possíveis de,
finalmente acessar-nos-nós.
O amor é a forma mundana de
vivenciar deus.
Amém!
Amem!
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BOURDIEU, P. A dominação masculina. 4ª Ed. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.